domingo, 28 de abril de 2013

paisagens transitórias








"We make a mistake, says Seamus Heaney, if, driving down a road between wind and water, overwhelmed by what we see, we assume we will see "it"better if we stop the car. It is there in the passage."



Maria Reiche





  Maria Reiche imigrou para o Peru durante o apogeu do Partido Nacional Socialista e de uma grave crise econômica na Alemanha. Sua mãe foi uma pioneira do feminismo na Alemanha e seu pai, abatido no campo de batalha da Primeira Guerra Mundial, exercia um cargo político municipal. Reiche passou 50 anos de sua vida buscando comprovar a ligação das linhas e dos desenhos de Nazca com o comportamento dos astros e das constelações. Lutou também pela preservação do sítio arqueológico e pela educação da população local. É conhecida, ainda, por varrer o deserto, descobrindo – no sentido de encontrar e compreender – os resquícios de uma cultura milenar. Reiche morreu em 1998, aos 98 anos de idade, em Nazca.  




segunda-feira, 22 de abril de 2013

vermiculum

                      

                     


Durante o período da colonização, a cochonilha foi tão explorada quanto a prata, e tão difundida quanto a batata por los conquistadores espanhóis. As roupas do cardeais nesta época eram tingidas com o inseto da espécie kermes vermilio (que deu origem ao nome latim vermiculum, e a palavra português "verme" e "vermelho".) Ao descobrirem no carmim um vermelho mais vibrante e duradouro, o inseto dactylopius coccus passou a ser cobiçado pela colônia. 

Atualmente, o uso do carmim movimenta cerca de US$ 75 milhões ao ano no mundo.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

verde-cacto, vermelho-rota e corante carmim






Ao buscar a localização de Nazca em relação a Brasília no mapa constatei que as duas cidades se encontravam na mesma latitude, ao longo do paralelo 15° S. Tracei uma linha imaginária conectando ambas as cidades, demarcando o percurso de minha narrativa cromática.

A linha vermelha se tornou uma abstração ou uma síntese do meu projeto perpassando ritos, rotas e rastros.

A cochonilha deixa de ser um inseto, cria formas antropomórficas, gera percursos e se torna uma metamorfose de metáforas 



Dissertação


a cochonilha vale ouro : narrativas cromáticas do carmim 

    
A cochonilha do carmim não passa de um mero acaso ou um impulso circunstancial para a criação de poéticas ficcionais. A presente pesquisa de caráter teórico/prático busca reunir uma série de propostas artísticas por meio de uma narrativa poética e de estudos multidisciplinares. A apropriação de conhecimentos e linguagens em outras áreas do conhecimento serviu para fomentar reflexões e proposições artísticas. A série de trabalhos apresentada foi desenvolvida entre 2011 e 2012. As narrativas cromáticas do carmim transitam por todos os capítulos da dissertação, buscando tecer uma unidade e um diálogo com as questões e referências abordadas. 



The cochineal carmine is nothing more than a mere coincidence or a circumstantial impulse for the creation of fictional poetics. This study of a theoretical/practical nature aims to bring together a series of artistic proposals by means of a poetic narrative and multidiscipli-nary studies. The appropriation of knowledge and languages from other knowledge areas served to provoke artistic reflections and propositions. The series of works presented were developed between 2011 and 2012. The chromatic narratives of carmine transit all the chapters in this dissertation, aiming to weave a unity and dialogue with the questions and references dealt with.

sábado, 6 de abril de 2013






1 kilo de cochonilha do carmim - 500 soles 
1 vôo sobre as linhas de Nazca - 110 dólares e muito enjôo 
1 piedra de la Palpa - un secreto 
limonada batida com clara de ovo e porquinho-da-Índia frito - que nojo 
2 deslizamentos na estrada à Cusco - 22 horas en el micro 
1 arroz de Chifas (comida chinesa-peruana) - 5 soles 
4,000 metros acima do nível do mar - 1 dor de cabeça e 1 chá de coca 
claudio, javier, juan, tony, patricio, richard y linda 
1 sala-merengue - 1 carinho nutritivo 
1 tsunami no Japão - uma reverberação no Peru 
o sonho de Tai - abrazar una llama 
diego y rodrigo - 2 irmãos, 2 escultores, 2 amigos 
1 pisco - no gracias 
você - e eu já não estou mais aqui 
la tuna - a palma 
Walter - e os 20 soles que você me deve 
250 gramas de cochonilha - 70 soles 
Lima - São Paulo 
São Paulo - Brasília

menino de rua




Os biscoitos e jujubas de morango contêm o corante natural carmim em seu componente.  



oro, plata, cochinilla

  








   Ao redor desse pequeno inseto são criadas redes de relações econômicas, éticas, culturais e simbólicas. O uso do carmim movimenta cerca de US$ 75 milhões ao ano no mundo. O consumo do corante cresceu 30% nos últimos 10 anos, devido à constatação de toxinas cancerígenas em determinados corantes sintéticos. 

  Para cada quilo de cochonilha do carmim são necessários cerca de 150 mil insetos. Já para a extração de um quilo de ácido carmínico, usado como base para a produção de uma variedade de corantes vermelhos, é preciso o processamento de seis a oito quilos de cochonilhas. O Peru produz cerca de 85% dos corantes cochonilha. 






  Com a proposta de deslocamento até a área de cultivo da cochonilha do carmim, elaborei o Projeto Nazca, que realiza uma coleta de material in situ e efetua uma ação escultórica, na qual busco um diálogo com a expressão artística-ritualística de um povo milenar.




[foto: Tainá Lacerda]


intervenção discreta

                      




A raiz da escultura em forma de cacto foi composta por um metal retorcido que simulava o desenho do alcatraz.  Apesar da região estéril, onde o clima desértico torna a pachamama quase infértil, muitos dos desenhos zoomórficos ou fitomórficos encontrados em Nazca fazem referência ao mar ou aos animais que habitam a região serrana. O desenho do alcatraz, uma das maiores imagens, mede cerca de 300 metros e possui um longo pescoço em forma de zigue-zague que aponta para o local onde nasce e se põe o sol no dia do solstício de verão.

A área restrita a pesquisadores - arqueólogos, antropólogos e cientistas – poderia sugerir a escavação do objeto parcialmente enterrado. Seu destino, porém, se transformou em uma projeção mental ou em uma hipótese ilusória. A intenção era criar uma relação com a manifestação cultural de um povo milenar, um diálogo com as misteriosas linhas e suas mais absurdas confabulações e teorias.
   



sítio arquelógico de Nasca







                                                              [fotos Tainá Lacerda]

Maria Reiche




                                     [foto:Bruce Chatwin]




Nasca vermelha










[fotos: Tainá Lacerda]

anotações